21.12.10

só desta vez



chamem-lhe nostalgia, chamem-lhe saudade. chamem-lhe falta de céu, falta de mar, falta de sol. chamem-lhe frio, chamem-lhe desconforto. chamem-lhe distância, chamem-lhe perda. chamem-lhe força, chamem-lhe honra, chamem-lhe glória. mas hoje, não lhe chamem dor. nem sofrimento. nem tristeza. nem medo. nem "adeus"
não lhe chamem "adeus", porque eu também ainda não chamei. não o disse. não o senti. não o quis. ou quis. ou não, mas precisava de querer. de sentir. ou não, nada disso. eu precisava que voltasses e pusesses ordem nisto, neste misto de emoções a que chamam de vida. que pusesses ordem na minha. e só com um olhar, já não basta. não me chega. faz-me pensar, mas não me convence. quero palavras, quero as tuas palavras, quero o teu conforto, quero o teu carinho, a tua mão, o teu abraço. porque sempre pensei que fosses o que ficava, quando tudo se ia. um porto de abrigo. um pilar. uma ponte segura.
chamem-lhe nostalgia, chamem-lhe porque essa minha querida amiga de tempos voltou, instalou-se por cá e assombra-me a cada instante, quando caio em pensamentos divagantes em horas vagas, em minutos dispersos, que prendem a alma com o coração e tecem saudades imensas, quase distantes, quase perdidas, quase vencidas pela espera.
chamem-lhe falta de mar, porque é de facto; é falta de mar, de céu sem altura, de vento quente, de pureza. é falta de me sentir livre. de gritos. de presença. de ausência. de caminhos. de meios. de rotas.
é tudo que sinto, tudo tão oscilante, tão vago e tão intenso. tão descrito, sem pormenores. é nada o que entendo, apesar de lutas incessantes de procura e de verdade. de compreensão.


hoje chamem-lhe tudo, mas deixem-me partir em viagem, só com a nostalgia de um pouco de vida e com a saudade. deixem-me partir com um pouco de mar numa garrafa, um pouco de vento no meu cabelo, um pouco de céu nas minhas mãos, um pouco de areia na minha roupa, um pouco de sal no meu rosto.
parto sem destino, por aí, à procura de alguém que faça a mesma viagem, que procure os mesmo entendimentos. ou talvez não; queira apenas o conforto merecido e preciso. e agora chega, parto. estou de volta em cada pôr-do-sol, em cada manhã de outono, em cada noite de verão, em cada fim de tarde de primavera, em cada amanhecer de inverno. não parti de ti, mas por ti. a ver se me encontro.

5 comentários:

Andrea Soares disse...

A-D-O-R-E-I :o

Sara Martins disse...

vai. caminha. caí. ergue-te. mas encontra-te!

FORÇA

bad.influence.on.u disse...

lindo *.*
tal como o resto do blog...parabens :)

jo disse...

não partas para sempre que há tanta gente cá a precisar de ti...
está fantástico sara, é tão tipico teu!

amo-te

Sabina Silva disse...

AMEI !